sábado, 14 de agosto de 2010

Ode aos Dedos



Calo é ausência e presença. Voz e dedos. Sustentação e inspiração são pés e mãos. Palavra-luva-sapato-novo.
Prosac e dois dedos de prosa. Deixa o copo com três dedos de algo. Cruza as pernas e dedos. Deixa o gesto dar o gosto, o que quiser alegar o polegar, a quais dicas der o indicador, à dedicação também ao estopim da guilhotina, dedo no gatilho.
Dedo-vida no exame do pezinho, dedo-dúvida levantado, alfabetizado. Dedos seguem pontos e são os olhos dos cegos. Todo braile brilha, toda libra palavra. Dedo-som e a dedução. Dedo que roça a boca pálida e muda faz leitura labial. Do instante para o tanto da sedução. Beijo descoberta, identidade digital.



Dedo-base dá topada no tapete, tropica. Dedo peca na trapaça, lança os dados, chuta de três dedos. Aliança. Lança ao elo. Ficam os dedos e vão-se os anéis. Numa máquina, ao se dilacerar o dedo anelar, o que de lá seria acidente, resultou em adultério.
Escolhe a dedo o que se há de colher. Dedo-apoio, equilíbrio: do cigarro, da caneta e do talher. Se o dedo dói: Band-Aid, Mercúrio! Dedo doido sem camisa-de-vênus toca... Toca um samba e os dedos dançam, cada estalo é uma nota: redondilha dedilhada.



Dedo é teu. Dedo-ET-Contato. Redimensionam e o mencionam em rede. Dedo na tecla e no clique. Dedo ateu, dedo em riste sob o risco do carrasco. Dê doideira, lamento escorrido pelos dedos-cachoeira. Dedos de desdém: um a mais é o tentáculo do polvo, um a menos é Lula a salvo. Ao subir da serra vejo dedos não mais meus. Dedo nos olhos (do furacão). Dedo de Deus.

PARA LER OUVINDO: "Tudo" do álbum "Toda cura para todo mal" do PATO FU.

"Ode aos Dedos" é a primeira parte da Trilogia da Palavra [DEDOS/CARTA/FALA]

Texto apresentado na Sessão "Intervenções Poéticas" no Cineclube Buraco do Getúlio - Especial "A Palavra". Espaço Cultural Sylvio Monteiro, 02 de Outubro de 2010, Nova Iguaçu-RJ.