sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A la carte



E a carta diz: - Desacata! Seja a voz de Pero Vaz. Pergaminho é carta que 'caminha'. Hoje, emudece e emoldura. O papo é quase um guardanapo, é no papel, é um 'monte negro' na Central do Brasil. O meio termo entre o que não fala e o que não cala, aquele terno engomado, envelopado em meio à mala.
Não meça a remessa, põe as cartas na mesa. Pra lavrar o palavrão permita tudo que pode emitir a escrita. Troca a carteira por cartilha, faça do dicionário um visionário, cutuca a tchutchuca com lápis
cotoco: cada um no seu parágrafo, cada um no seu páragrafo...



Mas há quem diga que a carta é carta fora do baralho do contexto literário: perdeu os pontos, pediu as contas e os contos, e para o espanto até a margem é a imagem imaginária e marginal. Foi deixada abafada, esquecida na garrafa, congelada e virtual.
Cegonha perde a vergonha e manda a entrega por mala d
ireta. O que do seu papo sai é quase um sopapo. Golpe: está decretada uma reforma agrária, limites de hectares e caracteres, se não acatares já se desesperes.



Espaireça e veja o que paira: mais que um post-it e ninguém mais resiste: nasce o tweet. Fruto de um encontro desrecomendad
o de dois pombos tontos vira-copos vira: ele era o correio, ela era a gira.
E as cartas foram descartadas, se tornaram antigas, piégas e gagás. Eficiência agora era o truque, 140 o limite do toque, em quarentena o que não se resume, a vida vista de um microblog.
Venho por 'e-mail' desta convidar-lhes para o cortejo. Estaria a carta morta? A epístola atingida por uma pistola, fadada a um 'caixão-postal'? Jogada num buraco sueco por uns 'caras de paus' que lançam suas 'capas' fora.




Mas aí a palavra mágica, a palavra-música: Po-Po-Poker Face faz a carta ter um novo facebook. Sem corimba, com apenas seus coringas, usa os trunfos para os triunfos. A batida da carta não era fatal, não era mensagem psicografada, a carta batida era batida à máquina.
É o ilógico: pingos de "i" como bolas batem no travessão do diálogo. Crases-Traves: acentos graves contra a gravidade flutuam falsos.
Missão missiva: traz a pessoa amada em três noites (ou naipes). Não esquecer do 'ser'. Não esquecer do selo. As cartas prometem, as cartas não mentem. Verso é carta de costas: ilusionismo manuscrito. Carta à mão. Carta na manga.

PARA LER OUVINDO E ESCREVENDO: "As Cartas que eu não mando" de Leoni X "Carta ao Tom 74", duo de Vinícius de Moraes com Quarteto em Cy.

"A La Carte" é a segunda parte da Trilogia da Palavra [DEDOS/CARTA/FALA]