
Ah, se mudança fosse apenas uma questão de desmonte: um jogo de peças, não um jogo de posse... Desarmo armários, aleijo azulejos, tiro os lustres da ilustração, anulo janelas, e já nelas, me deparo com paredes em apuros. Destrato o teto para que os tijolos se desalojem ou talho um telhado de retalhos.
Não sei se todos esses caibros e cimento cabem no orçamento, se tenho no bolso para todo o embolso desse bálsamo, se posso fazer massa com doce, e com ela, sem derreter, o açúcar seque; e que daí surja, na raça, a duras penas, ao menos um terraço.

Ah, se tão fácil fosse como brincar de casinha, fugir do domínio do efeito dominó, do barulho da queda do castelo de baralho, pois em vez de casario, aqui se está numa casa-rio, onde o lago é quase a laje, em que se é quase uma fragata precisando de resgate, uma nau frágil sucumbindo ao naufrágio, em que se avistam meias soquete em meio à sucata.
Será que a solução é a dissolução? A implosão ploft, a nada soft nem sofisticada alçada do 'chão, pó poeira' ou qualquer outra manobra ou maneira, que é como obra que vem de sobras de trechos curtos em concordata.

Ah, Deus, financia a ânsia fina por um logradouro mais duradouro, como na tua manjedoura, para um cara duro - coração de ouro, tira todo o logro! Para que o mano não diga: - A casa caiu! E sim: - A casa saiu! Pois ainda haverá merenda na varanda, e a roupa que sangra será lavada em tanques de garra, ainda que no quinto dos quintais e que estes tais sejam parte do casebre pobre.
Virá a fé de ver Maria na casa de alvenaria, e com todo este esmero nascerá uma esmeralda, para que assim, todo barraco tenha o brilho do ouro do tempo Barroco.