sábado, 14 de novembro de 2009

OlimPIADAS 2016: Eu RIO.



As anedotas que me amedrontam: as empreitadas impreteríveis das empreiteiras em superfaturar, enquanto nos sinais, cobram-se as faturas da falta de estrutura das fraturas sociais, os juros de mora pela demora, pelas favelas atrás dos muros, pelos murros na cara da falta de decoro.
Cresce a cidade-silicone, revestida de cones e canos de calibres e descargas. Vai da redenção à rendição aos obstáculos dos tentáculos do crime: fogo na pira da tocha, pois quando não há fogo no "buzu" lá a galera se arrocha na hora do rush.



Nos "milimeTRENS" se desacata, gente se atraca, quebra catraca, depreda, joga pedra e fica a socos e catiripapos. Nos "centiMETRÔS", os vagões-óvulos são disputados pelo povo-espermatozóide, que compartilha trozobas, atritos e atrasos ouvindo samba de breque em meio à sacanagem das frenagens bruscas.



E enquanto não se repudia o pódio, canalhas vão ganhando medalhas. Enquanto se compactua, o PAC dorme como um pacderme e na epiderme se sente a rajada dos que capturam os helicópteros à bala.
No céu o incêndio e ao esporte a falta de incentivo. Vitória dos espertos contra o desporto, pois enquanto dispersos e perversos não se importam, se exporta a imagem de um "Olimpo" que não é limpo, que nunca será uma Esparta, que sempre haverá um parto e uma posterior porta cerrada, oportunidade parca, estabilidade porca. E até lá só rio do meu Rio que sorri de tudo, cidade da olimPIADA.

domingo, 27 de setembro de 2009

Sou só som...


Uma relação que se sagra fiel: uma só sogra, uma só nora e uma sonora veia musical. Palavras densas dançam, faz-se samba das sombras, mambo das mangas, tango das tangas e todo barulho se embaralha.
Dos sons dos passos do percurso fez-se a percussão, seu eco, a repercussão, de quando foram dados descalços, superando todos os percalços até que se pusessem os calçados, pra dali o sapateado, e ademais os penteados da música pra fazer a cabeça.
Uma lâmina ilumina os pelos quando por ela friccionados, como cordas, emitindo notas como um violino. Dedos tocam e teclam músculos das costas como um piano, ombros vibram graves, libertos da dor aguda num solo-massagem. Ar faz de sax e tórax um só orgão...

Música-alimento, que já vem pronta pra pôr no prato, classificada na prateleira, para o meu pranto, para o meu lamento... Música de franja e de fama, de franquias de francos atiradores, da sílfide que fede, de quem confunde cifra e cifrão.

Hoje ainda música a remo, que 'navegabytes' pelas ondas ao rumo da conexão. Afinal, quem vai 'ceder' DVD vedado, 'cassete'! A Medida Provisória Nº3 (MP3) deixa-te livre pra ouvir as arpas nos Arcos da Lapa ou nas vitrolas do LP... Vem o fone para o fonema como a cena para o cinema e a música pra tocar na rádio e no tecido 'celular'...



Eu quero música pra ingerir, para que a próxima geração possa digerir e até mesmo sugerir uma nova versão, ou mesmo ter aversão ou virar do avesso, quero mesmo é que fiquem tocados, que saiam de suas tocas!
Minha música é de musa, é de massa, é de classe e sem gleba, que tudo engloba. É de ousadia pra violar o violão... Não há dó a rimar se não sei se faz sol lá, se não sei se vou solar sem a luz de uma tintura, sem a partitura da batuta do maestro, para que se aprenda mais uma escala na escola, para que se escute a cútis do trecho tatuado, o timbre dos tímpanos... Para que eu possa fazer uma sonata com uma só nota depois ler nas orelhas do Aurélio: ouvido ou vida...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Necessidade de Expressão (A)normal



Eu sinto falta do afeto dedicado ao fetos diante de suas fotos. Sinto falta de quem burle as bulas e veja a vida bela num papel de bala; do descabido e do impensável; das surpresas das presas no pescoço de quem não é caça...
A massa mantém a marca, que mantém a mídia, que controla a massa, e um hacker invade a mente terráquea... Eu já sabia desse fado, desse 'foda' que serve pra tudo: oi, tudo bem, sim, e você, bem também, promoção e pra mocinha a insígnia da ignorância, de quem está propenso a pensar com a pança, do coração no pâncreas da maré mansa.



Lamber sabão, catar coquinho, plantar batata, pentear macaco e os cacos de um infarto fulminante iminente, nas letras miúdas do contrato, desafiam as lentes de contato, que constatam um ser carente e alérgico a corante amarelo, que considera que amar é elo imortal, contra o tempo... Amarelo na folha de papel, não na folha verde vegetal.
- Executem os execrados! - Não esqueça de respirar! Enquanto eu amadureço no amadorismo. Sou coluna um, dois e do meio, coluna vertebral. Sou até coluna de jornal, só não sou calúnia, etc. ou o tal... Sou o instante tantã contra o discurso escasso. Úteros frutíferos: louvados sejam os amores e seus protótipos, para que o ser humano seja mais ameno sem que seja menos.


Como um calafrio rasgado do vinho que passeia pela traqueia, uma veia aberta não me aborta, só aborda que esse flerte pela morte convidativa, mesmo com vida ativa, é aproximar-se de um mártir, como se fosse o fim, como se eu fosse fóssil, como se o prazo fosse presa fácil quando se preza pela boa prosa... poética, do nosso crédito inacumulável de 86.400 segundos, zigotos diários, para que todo ontem seja História, todo hoje seja matéria e o amanhã, mistério...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

(Des)Construção



Ah, se mudança fosse apenas uma questão de desmonte: um jogo de peças, não um jogo de posse... Desarmo armários, aleijo azulejos, tiro os lustres da ilustração, anulo janelas, e já nelas, me deparo com paredes em apuros. Destrato o teto para que os tijolos se desalojem ou talho um telhado de retalhos.
Não sei se todos esses caibros e cimento cabem no orçamento, se tenho no bolso para todo o embolso desse bálsamo, se posso fazer massa com doce, e com ela, sem derreter, o açúcar seque; e que daí surja, na raça, a duras penas, ao menos um terraço.


Ah, se tão fácil fosse como brincar de casinha, fugir do domínio do efeito dominó, do barulho da queda do castelo de baralho, pois em vez de casario, aqui se está numa casa-rio, onde o lago é quase a laje, em que se é quase uma fragata precisando de resgate, uma nau frágil sucumbindo ao naufrágio, em que se avistam meias soquete em meio à sucata.
Será que a solução é a dissolução? A implosão ploft, a nada soft nem sofisticada alçada do 'chão, pó poeira' ou qualquer outra manobra ou maneira, que é como obra que vem de sobras de trechos curtos em concordata.



Ah, Deus, financia a ânsia fina por um logradouro mais duradouro, como na tua manjedoura, para um cara duro - coração de ouro, tira todo o logro! Para que o mano não diga: - A casa caiu! E sim: - A casa saiu! Pois ainda haverá merenda na varanda, e a roupa que sangra será lavada em tanques de garra, ainda que no quinto dos quintais e que estes tais sejam parte do casebre pobre.
Virá a fé de ver Maria na casa de alvenaria, e com todo este esmero nascerá uma esmeralda, para que assim, todo barraco tenha o brilho do ouro do tempo Barroco.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Com sequência...



Eu nunca vi alguém da classe A morrer de hepatite B por falta de vitamina C que não fosse num dia D... Eu nunca soube o que Isto É!
Vi sim uma foda num Ford-F para que se atingisse o ponto G na hora H, com todos os cavalos de potência que nem todos os cavalos da independência deviam ter. Nem se D.Pedro I desse a todos os fins do nomes do filhos bastardos de escravas e putas do escambo, o 'Alcântra de Paula Gonzaga Bourbon e Bragança', a esperança de um JOTA erre, para que se consertasse o erro.
Me vi andando de lá pra cá, do Laika para o Ka, à la France com 'elle', encontrando MM's de N formas. Senti o sangue quente, tipo O, P da vida, na avenida Q, sem R$, ao derrapar sob uma curva em S. Era eu e apenas uma estampada T-shirt (For U) - pra você 'V' de Vingança que definitivamente: a W Brasil comanda o Arquivo X, a Geração Y e o Jay-Z.


Nunca vi pessoas de primeira linha assistindo a segundos tempos em países de terceiro mundo que não fossem em seus quartos. Mal sabia que o último dos moicanos vinha do quinto dos infernos. Nunca soube subir num pau-de-sebo nem assobiar (ou assoviar?) chupando cana.
É pique ou big no ratimbum do parabéns 'para' ou 'a' você? E as características vasculhadas da grafia dos asteriscos 'asterísticos' ou dos basculantes vasculhantes? Há pouco soube o que eram culhões... Eu pensava que só ladrão falava 'grana' e quem pusera a placa de 'não pise' já havia de ter pisado na grama.
Não casei nem comprei uma bicicleta, não me fiz de eclético nem eclesiástico. Não proferi a profecia por achar os 'eibicis' um tanto imbecis, como os degraus, as escadas e as escalas escalafobéticas. Eu sempre quis sentir sem que isso necessariamente fizesse sentido. E eu nunca pensei que chegaria ás quatro horas, cinco minutos e seis segundos do dia sete do oito de dois mil e nove.

domingo, 19 de julho de 2009

Não me acuse da micose



A epiderme coça, o dedo acusa mais um caso escuso na casa do Congresso, pois não se cassa o verme. Atos secretos, cretinos, segredam a agregação de seus netos, artistas natos dos seus melindres malandros, arcaicos e coroneicos.
Salários e Agaciel para agraciar funcionários fantasmas e os marasmos maranhenses cavam um bicho geográfico que ama a pá. Uma família faminta fomenta seus pizzaiolos e para ensaiá-los contam os que os seus cacifes sacam, e os caciques que lhes cercam, cegam ou socam, ou mesmo um mordomo para morder-lhe.
A praga da saga dos fiapos felpudos dos seus bigodes, a transparência dos seus parentes perante ás nossas fuças: invisíveis, inviáveis, invioláveis. Os ululantes apelos lendários de sua defesa defasada, evocando calendários de sua história, da moratória, de uma lenda... As lêndeas lendo pelos pêlos os piolhos que te olham, as pulgas que se empolgam e os carrapatos dos seus sapatos, nada disso passa, e você na posse me emputece e define em tese esse tipo de micose.
A geringonça desengonçada de suas farpas de piaçava não o varre dessa farra, não vai à forra, nem o ferra nem manda à porra. Mas quem sabe daqui pra frente uma piaba, onde se discerne o que se coça do que se caça, e essa sarna na nossa cara que é mais que sarda, que tarda, incomoda e se acomoda nos nossos aposentos e não se aposenta dessa pose de coma andante.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Everland



Negro querubim que a todos queria bem. Sente pelas cintas as primeiras notas, as espinhas do trauma para que se fizesse a trama, os espinhos da alma que sustentavam o drama, as faces das fivelas e dos amigos imaginários, originários de onde se podia andar na lua, dançar na rua e estar sempre no nunca.
Clipe, cena, filme, coro, coreografia... Tudo... Um semi artesanato de um artista nato, quase encomendado, recomendado. Cliques em sua sina, firmes, na cara, e o que o coração grafaria para os seus infantes o deixaria diante de uma infantaria, de gênio para androgenia, para uma década de decadência.


Mas era ele a quebrar os protocolos, pisar nos calos em grandiosa escala, quando compunha para as campanhas, solidário, ainda que solitário, sem solidez, para que se confunda aí o gentlemen e a dama; o adulto e a criança; a mágica música e a dança; a pele negra ou a branca, para o estilo que funda e difunde, e desfraciona, e funciona fácil a cada uma de sua facetas.
Fantástica beleza plástica de seus passos de Astaire e o descompasso do rosto para apenas um rastro do astro. Desafia a gravidade na luz e no blecaute, e vai a nocaute diante desses monstros de quarenta olhos, que se mostram como mortos em disfarce, sem segunda chance diante de holofotes para elefantes.



Fez, ao certo, até uma pessoa surda dançar sua música. Deficiente? Eficiente? Ciente do que sente: dom! Don't... Doesn't matter... Eles não se importam, eles só reportam do que o coração faz porto.

E nós? Nós somos o mundo: que te condena, que te rotula e te idolatra, culpados ou inocentes, ainda somos aquelas mesmas crianças da canção, sem esboçar ação, o velando em Everland. Negro querubim, que viveu na Terra do Nunca, se vai para que se lembre que viverá eternamente na Terra do Sempre.

domingo, 14 de junho de 2009

Na Morada



Antes a busca, como em bosques, por bocas. - Não que me beijam, mas que me falam e me calam e me acolhem, que me dão um baque. Daí desabam-se as minhas portas, desarmam-se as comportas e você, morena, me desmorona.
Antes a busca pela palavra: lavrada, levada e leve. Escritura sem critério onde procuro vaga. Vagueio em seus 'anseios', rabisco formas e arrisco-me em fórmulas de despudor se assim puder. Lascivo nos seus laços que me persuadem em suor, afogo-me no fulgor dos seus afagos. Irrequieto, não sei se arquiteto literatura ou a minha tara.


Antes de Caminha e suas cartas, nosso caminho de estradas fartas asfaltam a falta de ladrilhos para que nos encontremos em entroncamentos oblíquos da Via-Vida. Saio de choques e dos cheques para a sua saia. Pioneiro, faço-te rainha. Escrevo e mexo em peças e passos. Diversifico-me em versões diversas, de versos, sem limites e espaços.
Antes o amor e não o mesmo a esmo como jogo ou ciência, para que a convivência não se torne conveniência como em um posto, como apostas em animais que pastam, como um aposto, entre vírgulas, em que Virgulinos e 'Lampiões' são lampejos sem Marias-Bonitas.



Antes da construção, a instrução. Nossa fundação para alicerçar e ali cessar qualquer entrave ou treva. Com quatro folhas e trevos, cercear tratores de estrutura, pois não haverá entulho em nossos atalhos, cascalhos em nossas telhas e qualquer um verá com veracidade que nos amamos à vera. E até os Verões nos verão velhinhos na velha cidade, juntos a cada janta.
Antes que o esquecimento dure mais que um momento, talho com centelha, fermento e bolo, as feições da perfeição do nosso encaixe como cimento e tijolo: sua lógica matemática e meus contratos com o abstrato. Suas contas e meus contos: nossa decoração.
De coração, na morada, comigo, casa?

domingo, 31 de maio de 2009

Eles estão se lixando...



Na verdade, para nós, defecam. Se disfocam e se fincam com afinco em mandatos demandados por antas. Adiantam que o dito é fato, vivem ás turras pelas curvas e tangentes, intransigentes, de vidas turvas, nos estorvam torrando grana, fazendo torres e castelos, negando o estorno e a possibilidade de tê-los.
Eles estão em nossas mãos, nos germes de nossas unhas e nós, sob a alcunha de quem se acanha, nos aquietamos. Nossas unhas não cravam, se privam da garra, não reprovam a farra nem arranham as artimanhas de quem manda. A fé é feto, cruzamos os dedos e diante dos desafetos falta o dedo em riste no rosto, o dedo na ferida que cutuca e fica de butuca como fera em seus foros privilegiados.


Deduzindo, usando os dedos contra os medos, não mais um indicador apaziguador ou anelares nulos que se aliam e se alinham ao fácil e aos que nos fazem de pequenos polegares, mínimos... A eles o dedo médio: não saúdam e se vão.
Eles tiram as mãos valentes do volante e nós levamos quem não mais se levanta ao leito, velamos o que para eles é irrelevante como um formulário, enquanto correm com seus carros tal qual estivessem em Fórmulas e ás vítimas apenas o formol e um 'foi mal' de desculpa no pódio do repúdio. Sem decilitros de decência, sem centigramas de sentimento, somente a fama contra os bafômetros quando o tanque explode e o sangue que não estanca eclode.



Eles em nossas mãos e você batendo palma. Eles se lixam e você que não pode linchá-los toma laxante? Eles na Base Governista governada de verniz e você na revista não quer ver nada além da base incolor e do peito indolor, e mesmo que ele te assalte, você... esmalte. Eles estão se lixando e nós fazemos as unhas.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A Pandemia e o Pandemônio



E quem sabe dizer dessa vez o que comeu o porco mau? E o lobo homem, lobo bom? Bombom ou a bomba? Invertem-se os papéis quando há mais uma ideia mirabolante para aumentar o montante com a criação de um mutante resultante da antiética. Um monstro genético de potencializadas proteínas nos contamina, pois eles não aceitam uma mina a menos.
E o que andam fazendo nas fazendas? O gado de corte e a corte de patifes nos servindo bifes de bois que comem restos deles mesmos. Reações e rações de sobras de sangue e ossos, enquanto a gangue não mede esforços para torná-los canibais: 'animartificiais' de cartilagens e cartéis.



Se antes Darwin, hoje falhas hereditárias: um dálmata sem alma e sem pinta de repente tropeça num gato persa que virou tapete. Células de cédulas! Dólares de Dolly! E há mais um lote de filhotes de ovelhas velhas.
Artifícios para os galináceos: Luz em suas faces! Ovos, aves! Quando nunca é noite uma cloaca não empaca. Para a engorda e para a corda no pescoço e para o pacote pois o tempo é escasso.
A ira da natureza contrariada, extraviada: falta leite e sobram leitões, a fome difama. Nós como curió, geladeira como gaiola com só água e jiló e uma colher pra fazer farofa raspa a parede. Como se cantássemos uma paródia, como se clamássemos numa paróquia, embora aqui os cantam de galo se trajam de gala.



Suíno Homem, apresente-se: dirige de ré uma carreta de carré e não digere, não sabe o que acarreta. Dizimam os rebanhos como se pagassem dízimo ao criador. Enquanto matam os porcos nós contamos os corpos afetados: de Febre Aftosa, de Gripe A ou de quem vai piar quando pegar uma Gripe Aviária.
Porcos em suas pérolas, nas suas fuças de fossa, nos seus avanços e desavenças, atrás de suas máscaras elásticas da elite. Suíno Homem brinca de Deus e não percebe os retardos dos seus jogos de dardos.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Saracuruna, Estação Terminal.



Atropelado pelo atraso, morreu um cara de cabelo sarará em Saracuruna. Em desalinho, andou nos trilhos com a sua tralha para o trabalho e foi o fim da linha, se acometeu contra o cometa, sua última falha e sua última fala pelo filho.
Enquanto isso, o deputado ganhou na Sena uma passagem que o desantena da realidade. No Senado se pergunta onde será esse lugar chamado Saracuruna. Estação Terminal e o Estado estático é paciente, terminantemente doente, em estado terminal.
Nos ramais nós, tratados como rameiras. E os trens, quando vêm, se encarregam de nos carregar como carga, como merda, a quem amarga uma viagem de porta aberta, de frente à morte, de frente ao porte do chicote do apito da falta de comando, enquanto os comandos que realmente mandam são de cores e ordinais: vermelho, em ação, terceiro...



No ônibus lotado, o motorista é cobrado quando atrasa o troco, o trocador desempregado pede socorro. Nosso condutor dirige o caixa e deixa o volante volátil, recebe a cédula, e indica pela seta sua condição de ser explorado. Cata moeda no pote, sai da pista e se choca contra o poste e nós comemos alpiste presos na gaiola.
Já diante da greve que se agrava, a grávida presa ao cinto foi alvejada e não foi capa da Veja e foi no bolo mais apenas uma cereja de todo abalo da cobertura. Escreve-se o fim de mais uma história e na escola, o filho do sarará aprende caligrafia.
Se lá fora mais um projeto de trem-bala, aqui bala no trem. Um projétil, doce na boca, calibre doze à queima-roupa. E nossas composições se decompõem e há toda uma frota pra nos fazer de frete pois estamos fritos.


Há pouco espaço nas linhas, mas que tal eles no Espaço Sideral dentro de um ônibus espacial? Pois se os encontro dentro de seus carros blindados haverá uma catarse. Se eles vão a Paris, se eles vão a Dacar, se vão ao Catar eu não vou acatar, vou atacar até com catarro. Vá te catar!!!
Decerto aqui apenas o deserto nesse Saara. E vocês não levam a sério que esse 'existir' não sara, que esse elixir não cura e que morreu mais um cara, de cabelo sarará e pernas de saracura.

sábado, 18 de abril de 2009

Do Costume...



O hábito, o óbito e a falta do ímpeto.
Filosofia dos olhos: as estrelas ou as placas de propaganda? as vitrines ou as flores na varanda? os colírios ou os lírios? Não mais se esbugalham, ficam em frangalhos diante do bagulho. Retinas de rotina: lacrimejam o arder do sabor de balas de naftalina. Baseiam-se em retas, visões robóticas, dispensam as perpendiculares, metidos em observações particulares, não debatem, 'caolham' para o nariz fazendo tudo tender ao tédio.
O costume nasce da muita confiança, do crime com fiança, do atual conhecer tão bem que resulta em futura ignorância. Daí um buraco na pista, um deslize na via ou na estrada da vida, não se desvia e se desvirtua na Via-Crucis. Costume é casa abandonada em rua sem saída, balde vazio em terreno baldio. É instalar-se no polígono da passividade, dilacerar-se em amaciante Confort ou Fofo, estirar-se diante de um sofá de mofo da zona do conforto.



O costume masca chiclé, mascara o chichê e prende 'recém-amores' no inconsciente da infinitude, do sempre, do 'sempre coca-cola', e fideliza um traço de amor obeso, jogado ás traças que tatuam iniciais desbotadas ao tempo do cair de uma folha seca. E aí, diante do eterno a falta: da ligação maior que o sono da madrugada, o 'eu te amo' inesperado, os ramalhetes e os verbetes aos cinco meses, a poesia a sete dias e três horas de namoro, um educado desaforo contra o velho novo: um modo arcaico, não em hebraico, grego, aramaico, mas como se fosse a última, como se fosse a única.
Um pouco menos do alento do amanhã, da obrigatoriedade das datas exatas, dos pequenos lembretes para a nossa amnésia: máquina de ponto pronta a cumprir tabela. Menos da marcha dos passos padrão da continuidade conformada, conforme os moldes de um uniforme. Onde agora estão os cisnes negros, os elefantes róseos e os pássaros verdes para afugentarem a pomba branca da paz comodista, das commodities no banco do acento da poltrona?

A liberdade contra o que apregoa a preguiça e o normal, que nos pregam e não nos diferenciam de roupas no varal: suor encharcado, pingando à busca de um lugar ao sol. E como então livrar-se do fim da linha, da queima da lenha, dos radicais livres que nos prendem? A vida para o trabalho e não o contrário, que nos cobra desenvolvimento mesmo dentro de uma engrenagem, onde estabilizar-se é 'engrenar', onde fala mais alto a grana, a gana e a voz de quem te engana.
Tire a poeira das fotos, molhe os lábios, exerça a exceção, seja excepcional: o imperecível contra a fome, o imprevisível para a meteorologia, no momento entre o lamento e a lama, da ferrugem da engrenagem, quando eles regem as regras não regue as rugas, pois eu, ainda, não me acostumei a me acostumar.

sábado, 4 de abril de 2009

A COR DAR





E se a coragem tivesse cor, que cor ela teria? Talvez apenas 'a cor dar', dar cor, quebrar o sono esquizofrênico: do coma ao croma. Porque se você não acordar eles farão outro acordão, e não haverá Vara pra cancelar, nem vara de condão. Eles darão a cor, eles a cor darão. E se você abstrair, será abstração? Não! 'Abstraição!
'Do Senado no escurinho safardano na cúpula do plenário, da cúpula ao cúmulo, ao curioso fato da inversão. Ora, o mundo está ao contrário e ninguém reparou? E se eu andar plantando bananeira? Eles não colhem 'laranjas'? Parlamentares hortifrutificados, calhordas, Calheiros, ultrafortificados... E vem a calhar calar? Cale-se! Afasta de mim. Afasta a nefasta responsabilidade.

Eu quero bronze pra o meu corpo, ouro no meu dedo e prata no pescoço. Deles eu tenho raiva, mas não rosno, não lato, nem mordo. Um vira-lata que se preze vive de restos. Everyday! Pra todo dia! E o prato do dia é desinformação em lata, com conservante concomitante. Biscoito Globo: polvilho e água, barriga inchada de quase nada... Enlatados americanos, novelas açucaradas, bordões embutidos e nessa 'catigoria' nós somos campeões. "Né brinquedo, não!" "Uhul, Nova Iguaçu!", né Bial?
Vaie! Porque a vaia é o aplauso dos descontentes. Manifesta o teu grito desumano, pelos olhos da morena, pela psique da loira, pelos cabelos da ruiva, pelas barbas de molho... Grita, ladra, uiva! Uiva a tua dor de um assalto a voto armado, pois se uivares pra dentro, no teu silêncio, serás teu próprio lobo. E no meio de tudo você se salva da selva?

sexta-feira, 27 de março de 2009

Meu Relógio de Segundos



Eu tenho um relógio que só marca os segundos. Eu tenho um relógio que marca! Horas e minutos são sempre os mesmos: acordo ás oito, almoço ás doze, trabalho até ás dezessete, estudo até ás vinte e duas... Ciclo, chip, programa, não pise na grama, Gramática, regra, oras... Não me desperta do sono, desperta sensações: momentos, risadas, gargalhadas, reservados a átimos, orgasmos... O segundo é pouco pra tão muito, é o suficiente para o inesquecível.
Segundos não são lembrados na História, nas certidões, nos registros. O segundo não se precisa, o segundo é necessário... Não aparece no diário, não está em todo horário, tampouco faz aniversário, é movimento, é o tudo, o segundo não pára. Segundos são peculiares, subjetivos, escorregadios. Cada um com a sua marcação, concepção... E daí sua identidade, daí sua poesia. Experimente olhar o relógio ao lado, será que existe alguma sincronia?
Coadjuvantes que roubam a cena, na passagem de ano, quando os contamos de forma regressiva para esperar o progresso na desordem. Segundo frágil que não quer que se quebre, segundo ágil como o passo da lebre e o meu relógio preso na parede, solto no tempo, para que eu me perca tentando me achar.
Anterior ao beijo, ao salto, ao boom da bomba, ao gatilho, ao gol, à morte. Apreensão! Prende a gente em reflexão... Tem segundo que dura um filme, uma vida, outros duram uma fração, um piscar de olhos, a ínfima parte da visão. Um segundo pra perceber a finitude de um segundo, da vida. Um segundo pra se ver dentro dele, como se refletido numa fonte, sentir a beleza da existência a cada singelo instante.
Meu relógio é peça preciosa, é música pra marcar o tempo, é poeta que atua, pintor que compõe, ator que escreve com lápis sem ponta, mas com ponteiros, onde um barulhinho bom invade o silêncio. Tique-taque dó-re-mi... Um segundo pra disseminar, reverberar, musicalizar, tocar o coração alheio, pisar em solo sagrado. Tudo ao mesmo tempo agora. Quem souber, com um segundo, poderá fazer a hora.

quinta-feira, 19 de março de 2009

ANOSVERSADOS



Era um dia místico: 19 de Março. Dia da escola, do carpinteiro, do artesão. Dia de saber se vai ter seca no Sertão, das águas de Março fechando o Verão. Dia de São José, que quase me rendeu um nome composto, proposto por meu avô. José Alan! A intenção era boa, o nome não. Era o dia de todos os anjos, de proteção, que me fizeram somente Alan naquela manhã sob aquele parto.
Um bebê que nasce e não chora... Um silêncio analítico e protestante, da dúvida de saber para onde estão fui cuspido, ou ainda a certeza de já, desde o primeiro segundo, destoar do coro, sabotar as previsões, desafiar a criação, a lei, o protocolo e o colo de quem me acolhera que, por eu não ter dado mão à palmatória, deu-me a primeira palmada na vida.
Hoje, dispenso os cometas, as felicitações rasas, os clichês, a superficialidade, o Natal fora de época, os presentes e as presenças indesejáveis, as promoções dos operadores de telemarketing, os reféns dos parabéns, os confeitos e os confetes. Hoje sou eu comigo mesmo, e sinto, e penso e logo lembro do que nem é tão saudoso, mas é saudável. Existo.
Foi o tapa no rosto do padre, seus óculos fugazes caídos na água benta... Um batismo que poderia ter me rendido quase uma excomunhão, antes mesmo de saber quem era, quem eram, a que Era eu pertencia ou qual era o erro. Nós, quando pequeninos, não damos sossego...
O caminho do mistério aponta pra dentro e nada melhor do que mergulhar em si para enxergar, ir além sem lentes de aumento. O que sou e o que sei, e o que sei por ser quem sou e o que sou por ser quem sabe, quem saberá? Quem sentirá se não a mim, a mente, sentidos, os signos e as certezas de que nada é certo.



Veio a paisagem do alto, dos sonhos. Da realidade dos canos de descarga direto no asfalto e os canos munidos de bala, a vala e a viela. A nobreza de ser pobre: a fala da favela. Vieram as descobertas do corpo, os atropelos na fala, os pelos, a pele, o púbis, as guerras, as brigas, o ferro de passar prendendo a lombriga, o não saber, não entender, o isolar-se, intimidar-se... Os livros, as notas e não ser notado, as marcas, o rosto e os rótulos.
Veio o mundo aos montes. Um sopapo: ser pop, ter papo, tomar sopa de assunto e assentar-me. Daí o rock, daí a bossa, daí a fossa e a poesia. O colégio chique, a casa em choque e o futuro em cheque. O vestibular, ser irregular, passar, não gostar, parar, trabalhar, voltar e continuar. Aprender...
A maré que leva o pai, os sonhos e a paz. A maré que nos alaga e nada alega, e logo lava a morada, o muro e a mera esperança na correnteza, que mira na incerteza, e mora no desapego, que desagrega, que fala grego e requer sabedoria e destreza. E aí o que diferencia, além das marcas, além das nádegas, além do nada que não me aprisiona: o questionamento, a indagação. – Uma vida sem isso não merece ser vivida, disse Platão.
Tem gente que acha que sabe tudo, tem gente que acha que nada sabe. Tem gente que dança e é julgado como louco por quem não sabe escutar a música. Tem gente que dança conforme a música, tem gente que compõe a sua própria... Vai entender... Quero entender! Talvez se o cérebro humano fosse simples seríamos ainda mais tolos e não conseguiríamos decifrá-lo.



Há nisso tudo uma inquietação, um tormento bom, a primeira banda, um primeiro beijo, um trago de inspiração. Por isso escrevo, pois habitamos o mesmo mundo, porque nos separamos só por espaço, não por coração. Escrevo porque a escrita é um silêncio que faz barulho, sereno, veneno ás avessas.
Escrevo e sou parte de um livro. Mas, e se a minha história é escrita por alguém que é ficção? E eu, a sombra de uma sombra? E se todos os diálogos são monólogos e a vida uma peça, um drama, a pequena peça de um jogo de encaixe.
Hoje algumas rugas ensaiam me rasgar o rosto, algumas dores nas esquinas do corpo. Eu ainda não sou nada, mas quem, ainda, é? Há um amor verdadeiro que me rege, há arte pra brincar com os sentidos e só na arte se é totalmente livre. Só com a arte nos aproximamos do indizível e construímos nossas próprias regras, nosso próprio mundo, como um Deus.
Tudo escrito? Escrevo ainda... Como se a pirâmide fosse o envelope, e a múmia, então, a carta. E aí não há lápide, haverá sempre um lápis que fará nascer sementes no meu cimento.
Escrevo pra não morrer.

sábado, 14 de março de 2009

VENDO A MIM MESMO



Vendo a mim mesmo.
Ouvindo Rock.
Cheirando a mofo.
Comendo pizza.
Batendo palma.
Eu poderia estar matando (o tempo), poderia estar roubando (beijos), poderia ainda estar assassinando a Gramática ou usando o gerúndio de outras formas sofríveis, sofrendo ouvindo Wando, etc... Mas tô aqui, "escrevendendo" palavras, sem slogans, vitrines ou autofalantes. Desclassificado. Único dono, sempre novo, completo... Quantas portas quiser: a percepção está sempre aberta. Kit Quer, Kit Fala, Kit Ama. Que te importa? Combustível-Motivação.
Aceita-se troca (de ideias). Não se tem preço. Deixe o que quiser, fica a seu critério. Qualquer "olá" é bem recebido. Passo o chapéu ao final do texto. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... Volte outra vez! Ame-me ou deixe-me... Quem dá mais? Pegue e leve!

Está instalado desde as trocas, desde as putas, desde os Feudos, desde as rifas, Capitanias, Mercantilistas, a comercialização do todo, de tudo, de si. Os governos dos países vendidos adequaram-se então à nova ordem: A vacina BCG será substituída por etiquetas acopladas ao pescoço dos bebês, batizada agora de PMG. Na ciência, o DNA dará lugar ao código de barras. Cartilhas virão em forma de out-doors, editoras terão como best seller as Páginas Amarelas. Nossas crianças deixarão os gibis de lado, fascinadas pelos Classificados.
Multiplica-se. O resultado é produto. Suas fezes servem de adubo, seus cabelos poderão render uma volumosa peruca e o sêmen que você externa é o menu do banco de esperma. Cueca usada, toalha suada, foto rabiscada... Tudo tem valor no Mercado-Mundo.
Vende-se a fé, o sonho, prazer, fórmulas, segurança, beleza... Tá tudo aí padronizado, abstrato, inato, impalpável. Vende-se sem ter posse, sem saber de onde vem: a alma, a Amazônia. Made in sabe-se lá... É o fenômeno da subjetivação da produção.
Vende-se a imagem, o status, e prolifera-se. Somos placa itinerante. Estampando... Tapados... Não remunerados... O sorriso jovial do comercial, a marca dos pés à cabeça, ego inflado, coisa de pele, gado marcado, vendendo saúde. Vende-se a morte em maços para as massas, engarrafando-os, engarrafadas.

E nós, compramos vendo ou vendados? E os sofismas, e os sofistas, e nós enganados? Eles colocam à venda, nós colocamos a venda. O eterno "gato por lebre". Não perca! - Pague dois e leve três! - Um é cinco, três é dez! Liquidação de nós mesmos.
Vendo a mim mesmo para desvendar o que há aqui dentro. Vendo a mim mesmo para ocultar o que estaria vendo. Emitir ou omitir a imagem? No espelho me espalho. Atolo-me em questionamentos. Retalho, sou tolo, espantalho... Tento afugentar os corvos. E a quem me arremate, peço piedade, que não me mate, que me conserve sem corantes e agrotóxicos...
Leilão.
Visão.
Escuridão.
Só não se vendem os conselhos, mas os venderiam se fossem bons.

sexta-feira, 6 de março de 2009

O Breve-Longo Conto de Radar



Inclinava-se para o efêmero, seu nome era Radar. Era Primeiro de Novembro, véspera do feriado de Finados (ele foi gerado numa rapidinha de Quarta-Feira de Cinzas). Seu pai chamava-se Fher, sua mãe Ida, e por um daqueles modismos, decidiram batizar a menina, anunciada pela ultrassonografia, de 'Fherida', a junção do nome dos dois. Quis o destino que viesse um menino, para a criança não ter de carregar tal peso. Ele nasceu leve e diante da suspresa pelo seu sexo, ficou sem nome durante algumas horas.
Ida queria logo vencer a fila gigantesca do cartório para o registro de crianças. Projetava-se longe dali e pensava apenas na estranheza de ver nascer um filho no dia anterior à celebração da morte. Bateu três vezes na madeira e disse: - Radar!
O escrivão, em final de expediente, não objetou. "- Radar de quê!?" Nem ao menos perguntou. Olhou o relógio, sorriu e disse: - Cinco da tarde. Tarde... Radar... Cinco letras! Assim como a palavra 'cinco'. Vai ser o número da sorte do seu filho, minha senhora.
Nem havia completado cinco anos de idade, e Radar já gostava de adiantar os ponteiros do relógio. Na tevê, assistia ao Speed Racer, Ligeirinho e The Flash. Aprendeu Libras pra gesticular enquanto falava e adorava proferir a expressão: é uma mão na roda. Não era superdotado, apenas terminava as provas antes dos outros na escola. Mais que passar direto, queria passar despercebido. Anotava monossílabos, siglas e tudo que pudesse simplificar o fado, a foda de sua existência. Quando criança já era só. Corria...



Fazia questão de comer em fast-foods, fazia questão de "comer" em prostíbulos. Nem se preocupava com os nomes, nem dos pratos, nem das belas. Pagava à vista. Tinha indigestão. Tinha ejaculação precoce. Nunca foi constante, não lhe agradavam os contratos longos, casamentos, vínculos empregatícios... Elo pra ele só o materno, coisa de sangue. Nunca amou mulher alguma além de sua mãe.
Antevia, desvendava, tinha faro. Foi sondado pela polícia e pelo tráfico para prestar seus serviços. Dispensara... Gabava-se apenas de ter gravado de primeira os mais de duzentos versos de "Faroeste Caboclo". Acabou no Jornalismo, viajou para longe. Não para o Faroeste, mas usou seu faro para o furo de reportagem. Soube e sabia demais, sentiu-se ameaçado e pensou na tecnologia.
Fez curso de leitura dinâmica. Matriculava-se apenas em intensivões, supletivos e cursos de final de semana. Era econômico com as palavras, falava como se escreve hoje na internet numa época em que ainda nem se sabia o que era 'Cyber Português'. No seu caderninho curto, abreviações de coisas que só conheceríamos anos mais tarde: www, LP, CD, PC, MP3, DVD, LG, MTV, TNT, PT... Mas nunca quis divulgar seus inventos. Levaria tempo demais...
Dizem que ele idealizou o projeto do trem-bala, na música, compôs o "Samba de uma nota só", nos negócios era dono da Viação Cometa e até na política, inspirou o Dr. Enéas e tantos outros a inventarem bordões de modo a chamar a atenção, evidenciando apenas seus nomes e números.
Estabeleceu também, que as pessoas se refeririam a tempo, quando na dúvida sobre distância. Exemplo: - O mercado fica a quanto tempo do Centro? Em vez de: - A quantos quilômetros de distância... Recomendava... Porém, nem Física, nem Matemática, tampouco a História foram capazes de registrar uma linha sequer de seus pensamentos. Ele passou rápido demais.
Não tinha paciência, e por não ser paciente nunca tinha ido ao médico. Sabia que naquele ritmo entraria em colapso brevemente. Afinal, seus cabelos brancos vieram aos 20, as rugas aos 25, a arritmia aos 30 e antes mesmo dos 40 anos alguns sinais de Parkison já davam indícios da chegada. Mas dizia estar bem, malhava... Duplicava o peso para diminuir o tempo das séries. Sua vida era uma metrópole. Acelerava...



Seu carro ia de 0 a 100 Km/h em singelos 3 segundos. A máquina era um "Bora" e tinha a seguinte escritura adesivada em seu vidro traseiro: "KD?" Num dia desses de se querer furar o vento, seu possante chocou-se contra um poste de alta tensão. O acidente não durou mais que dez segundos, foi tudo muito rápido, como sempre. Um grande clarão se abriu, como se levando Radar a CTI na velocidade da luz, onde permanaceu na escuridão do estado de coma por 6 duradouros meses.
Ainda em estado vegetativo, Radar projetava seu velório: Não duraria mais que 30 minutos. Um salão alugado, com luzes quase findadas em velas pela metade sobre candelabros prestes a visitar as latas de lixo, em cestos que são trocados de hora em hora... O acidente lhe tirou o movimento das pernas, e a vida, que lhe pregara uma peça, deu-lhe mais 60 anos de peso ou redenção, a critério de seu dono.
Radar passou a fazer o que nunca fizera: ouviu o lado B de antigos discos, atentou para a opinião alheia, para as crônicas, para o som da respiração de quem via dormindo profundamente ou dos seus próprios suspiros enquanto ainda acordado. Sentiu aromas, saboreou gostos, tocou seu rosto que definhava e desconfiava do que seus olhos já chispantes e pouco precisos tentavam enxergar. Leu. Escreveu sua história na forma de um conto, mas nunca contou exatamente nada de sua vida antes da despedida.
E aos 120 anos de idade, no quarto de seu apartamento, acomodada sobre uma cadeira de rodas, tombada com a testa recostada em um notebook obeso e obsoleto de seu dono, findava a vida de Radar. No exato momento em que as pilhas de seu relógio de parede sucumbiam ao silêncio dos ponteiros e a imobilidade dos mesmos impedia o velho Radar de estar, como nos tempos de criança, à frente de seu tempo.

segunda-feira, 2 de março de 2009

FILME FOLIÃO



Quem dera, quisera eu... Quimera já feneceu. Pudera, fim de uma era, assim, sincera. Resquícios de um apogeu.
Não me compete mais jogar confete em ti. Atirar serpentina... Seus tempos de menina, meus tempos de moleque.
Te vi prioridade visto como opção. O amar-te sem idade amou-te ancião. As rosas amassadas, por ti abreviadas, perfumaram sua mão.
E de um semblante triste, recorte que persiste, recordo a razão rasurada. Lembrança bem cunhada de um filme folião.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

1/4



Um quarto dentro de uma casa dentro de um quarto dentro de uma casa... A tevê dentro da tevê dentro da tevê. E essa sensação de ficar cozinhando cozinha, fritando frigideira, cavando pá... O cachorro correndo atrás do próprio rabo, meter-se em si sem saber sair.
Uma barra, um pedaço, a mordida imprecisa no chocolate. A metade da metade, a parcela, a porcentagem, o problema da quarta série, brincar... Monta logo esse Lego e aluga o lugar. E a cruz na pizza que é um quarto de hora e não demora para esfriar.
Quarto é privação: - Já para o seu quarto, de castigo, sem video game nem ver o amigo até aprender a lição! E lá se chora na cama que é lugar quente e chora também o quarto na disputa, que fica sem pódio e sem bronze, não leva nada na competição.

Quarto-locação! Aluga-se, vende-se para temporada e para excursão. Sujeito à mudança que faz o preço pesar na balança como se fosse o de um quarteirão. Quarto de luxo ou não, para se dormir debaixo de um teto, um canto, cafofo, muquifo, budega, pensão...
Seu quarto é a casa ao quadrado, mesmo que ele seja retangular. Se a casa é sistema, o quarto é orgão e vê-se isso nas paredes, nos quadros, nos pôsters, nos dardos. Lê-se na pintura, nas rachaduras, no reboco, na nossa fragilidade sujeita a reboque, no interruptor que dá choque, que é luz e inspiração sem interrupção.



Quarto-privacidade, individualidade, cada um no seu quadrado. Quarto NA casa que não é um quarto DA casa. Relação, proporção, Geometria e Engenharia e quem sabe a Biologia, sim, pra dizer o que seria um quarto de mim.
Quarto-repouso, cheiro de roupa de cama, toalha molhada, travesseiro fofo e até um colchão. Aquele cansaço, o sono no corpo que onde se deita parece até pista e a gente o avião.
Quarto para se isolar, no pânico, na reclusão. Separações, mosaicos, repartições, Aristóteles.
Quarto para dois, uma suíte, sweet, doce. Quarto para unção, junção, de corpos, amor, Platão.
Do azulejo que não é azul até o azul do céu sobre o teto. Amar é um verbo no quarto que não tenho.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Panis et Big Brothers



Imagine aquela sua tia meio bigoduda, desgarrada da família, que adora meter-se na vida de qualquer um. Agora tente vê-la mergulhada na fonte da juventude e da exuberância do silicone, na companhia de mais meia dúzia de Gertrudes popozudas. Lembre-se que ela fala muito, ficaria melhor de boca calada, mas quem tem boca vai a Roma. E eu também vou. Você me acompanha?
A "Política do Pão e Circo" (Panis et Circensis) ficou famosa no Império Romano de séculos ainda antes de Cristo, caracterizada pela prática do Estado de promover espetáculos como lutas entre gladiadores ou corridas de biga, e dessa forma manter os plebeus longe da política e das decisões sociais.
Quando Júlio César, o Imperador, proferiu a frase: "Para o povo pão e circo", não imaginou que alguns milhares de anos depois, José Bonifácio e sua equipe criassem slogans tais como: "você não perde por espiar". É conhecido que durante o Império Romano os espetáculos ocupavam no mínimo 182 dias do calendário anual, já a atração Global chega perto dos 100 dias a cada edição. Se a distribuição de pães era feita no Pórtico de Minicius, a distribuição de massa (de manobra?) do Big Brother Brasil é feita em alta tecnologia e atinge (ou perfura?) boa parte dos lares (populares ou não) em nosso território.



Onde ouvia-se: - ALIMENTE-OS E DISTRAIA-OS, poderia escutar-se: - ALIENE-OS e DESTRUA-OS. Era só uma questão de interpretação dos conteúdos lotados de coisas vazias. No país da energia desperdiçada, carente de representantes dignos, onde não se tempo para o que se requer tempo e se projetam heróis em linhas de produção (ver últimos dois posts) idolatra-se e reclama-se.
Lê-se notícias do paredão do dia anterior no ônibus lotado da manhã sonolenta. O emparedado da manchete será o milionário do próximo mês, o espectador ingênuo é o emparedado social de todo dia. A submissão é tamanha, lembra até em alguns momentos o deslumbre dos primeiros usuários daquela pesada caixa de madeira, a televisão que chegara ao Brasil há décadas. Perceba a linha tênue que separa o que lhe apenas apetece ( e apetecer vem de apetite) do que lhe acrescenta. É como ter fome e trocar o almoço da sua avó por um hambúrguer.
O BBB invade a sua casa ao longo de quase 3 meses, o "brother" vira seu hóspede, protagoniza suas discussões e debates e dali a uns 6 meses nem tem mais o nome lembrado... Vê-se que o sujeito não trouxe nada de muito produtivo para a sua vida, de acordo? Essa relação espectro-escravo-espectador foi muito bem lembrada na música "Até Quando?" de Gabriel, o Pensador, quando o mesmo canta: "A programação existe pra manter você na frente/ na frente da tevê/ que é pra te entreter/ que é pra você não ver que o programado é você..."
Não que eu não tenha curiosidade, também sou humano, mas o que eu queria mesmo era ser voyeur daquele castelo com 8 torres, avaliado em R$ 25 milhões, coisa fina que o deputado Edimar Moreira (DEM-MG) montou com o faturamento das suas empresas de segurança, assegura ele sem precisar ir ao confessionário. Lá as câmeras seriam interessantes, talvez não dariam tanta audiência... O povo não tem interesse em ser detetive de causa própria.

O que me incomoda de fato na atração Global é a contradição com o seu maior apelo: o convívio de pessoas totalmente diferentes, privadas de sua liberdade. A pouca diversidade é notória, e nem os belos textos, citações e referências de Pedro Bial, antes das noites decisivas, conseguem desmantelar essa, digamos, má impressão quanto ao processo seletivo dos participantes.
Diversidade, senhores, não se alcança colocando uma dúzia de seres na plenitude de sua forma física, com interesses parecidos e de classes sociais equiparadas para o confinamento. Não acredito que com bichos a experiência seria muito diferente: competição por espaço, influência e liderança, brigas, formação de casais e tudo isso que no final das contas acaba alavancando os índices de audiência.
Se a comparação foi pesada, peço desculpas, não é só Lacan e a Psicanálise que são apaixonados pela complexibilidade da mente humana, mas por que não um policial, um ex-presidiário, um morador de uma favela, um milionário, uma perua, um hippie, um professor, um estudante, albino, negro, homossexual, deficiente físico, adolescente? A sugestão é sempre válida, não faltariam perfis e prosas interessantes. É quando vem à tona as diferenças que surgem os melhores ensinamentos, não com caricaturas formadas em ilhas de edição. Precisamos de histórias de vida diversas, algum "antes" que acrescente ao "depois".



Afinal, O Big Brother é a sua vida, somos nós confinados na rotina diária do mundo moderno, convivendo as mil maravilhas e as turras com gente que nos quer bem, que nos quer pra eles, que quer ser quem somos, que nos ignoram, que nem sabem da sua existência ou vivem em função de você. Somos nós em busca de reconhecimento, nos expondo e depois nos retraindo quando nos mostramos demais. O BBB é a sua vida e você ainda quer um show de realidade?
Se você não assiste ao programa e no dia seguinte fica sem assunto na roda de amigos, na escola ou no trabalho, não se importe tanto, externe sua opinião mas não se magoe por ser talvez ser execrado. Muitos foram, tantos sábios. Mas se bater a curiosidade em assistir, importe-se menos ainda, afinal de contas, em algum momento, todos temos direito aos nossos 15 minutos de LAMA.