sábado, 30 de janeiro de 2010

Enchanté



Não diferencio mais rua de rio, daqui o rodo não se arreda, o que alaga nos aleija. A lei já era, a essa hora, escamas na cama, no esquema do que a vida não veda. Eu me cubro com lençóis freáticos!
Tem-se aqui a caravela, a luz de vela, a novela na vala, a navalha e a falta de escolha e de escola, pois mesmo o povo não leva o assorirar a sério: depositam
restos nos leitos, e não fica claro que apenas os ratos e baratas animadas seguirão a chacoalhar barbatanas e antenas.
No marasmo, a mensagem poderia chegar em garrafas: nós reféns, na mira dos sarrafos. O prefeito elabora com o barro que nos borra o seu prefácio: Fatos isolados! Enquanto flagelados, em crateras, decretam que cretinos são aqueles que nos viram as costas, que não viram risco nas encostas.



Hibernam, governam nas coxas da esbórnia, while we was born to be treated like barnabés, com pés de pato, com plástico nos pés, na lamaceira da pasmaceira de quem não nos escuta e só nos desacata. E não dá pra deixar de nos inundar?
Eles de ego inflado, nós de bote inflável tomando o bote infalível dos 'cobras', que cobrem os pobres com minas de contaminação, nos canos de esgoto de vossos vasos, de vossas fossas, das faces falsas que nos esgotam.
Em festa, as agruras de uma vida agrária nos infesta. Não é a ordem o que a gente herda, é o ônus, anos após anos na merda vendo tudo errado: sou terráqueo no arranque do barraco, ou embaixo alagado, ou do alto soterrado.

PARA LER OUVINDO: "Ode aos Ratos" de Chico Buarque, do álbum "Carioca" de 2006.

4 comentários:

Anônimo disse...

Incrivelmente, sempre sensacional.

Thayme* disse...

Adorei os PARA LER OUVINDO que tu estas postando nos textos ;D

Unknown disse...

sensacional este texto, parabéns!

Unknown disse...

Gostei do jeito que você usou rimas em um texto (sem versos!). Gostei mesmo!